domingo, 19 de setembro de 2010

Desabafar com quem já não pode ouvir


Sapinho,

podia começar por dizer as saudades que ainda tenho tuas, mesmo passados sete anos, podia questionar mais uma vez o porquê de teres partido quando a altura em que eu realmente ia precisar de ti ao meu lado para me apoiares e ajudares a ser quem eu realmente deveria ser, para me guiares para o meu caminho ainda estava para vir.... e veio, acabou de chegar.

Sapinho, tu que foste mais que um tio, mais que um pai, mais que um irmão... será que algum dia esta raiva, este desespero, esta sensação de estar perdida, esta dor, será que algum dia passarão??? será que algum dia deixarei de sentir o que tenho sentido?

Estou desesperada tio, não sei para onde me deva virar, não sei que caminho seguir, não sei onde virar no cruzamento... Fazias-me tanta falta agora...

Sabes, por vezes ponho-me a reflectir e vejo todas as coisas que tenho feito na minha vida... Todas elas, e de todas elas não há uma de que me orgulhe particularmente, não há uma bem feita... Ajuda-me a encontrar respostas Sapinho...

Sinto-me fraca, vencida, um lixo... Onde está a Daniela Meiga? Será que ela algum dia existiu? Por vezes penso que preferia a Daniela subserviente, que não questionava, limitava-se apenas a cumprir ordens e a chorar de revolta à noite...

O que eu fiz tio? Que caminho segui?

Em pouco mais de 3 anos consegui fazer amigos e perde-los todos, consegui magoar-me a mim e a todos os que hipoteticamente gostavam de mim... Consegui tornar-me no cão raivoso de quem toda a gente se afasta, consegui tornar-me possessiva, egoísta, fútil... Mas agora vejo que não sou mais feliz...

Tio, tenho ao meu lado a pessoa que amo, tenho a avó que me defende, mas não tenho amigos, não tenho amigas, não tenho a quem recorrer para rir, para chorar, para contar aquele segredo que não poderia partilhar com mais ninguém... Sinto-me inutilizada.

Por vezes penso que gostava de ser uma pessoa melhor, ajuda-me.

Vejo-me agora num beco sem saída, onde não tenho nada, não tenho ninguém, e esta frio, frio e escuro, tudo o que vejo é dor, medo e desespero...

Vendo bem as coisas, há sete anos que estou assim...

Perdi as minhas melhores amigas, e por mais que sinta a falta delas não sei perdoar, não sei desculpar, nem sequer sei se há algo para desculpar, nem sei porque estou chateada e magoada... Talvez esteja na altura de admitir que errei, talvez esteja na altura de admitir que não consegui vê-las seguir em frente, que não consegui aceitar deixar de ser os seus centros de atenção, os seus portos de abrigo... Será isso? Terei eu a sádica necessidade de me magoar a este ponto para estar bem? Terei eu a sádica necessidade de ter alguém infeliz para ajudar para assim me sentir feliz?

Sinto-me cansada, só... Sinto-me responsável pelo afastamento da pessoa que amo do mundo em redor, sinto-me responsável por ele ser obrigado a esconder-me coisas porque eu não me sei controlar... Sinto-me responsável por as pessoas não quererem sequer ter-me perto delas...

Tio, Preciso que me guies, onde quer que estejas... Preciso de ser uma pessoa melhor, uma pessoa normal...

Sapinho, tenho pensado muito, e chego à triste e cruel conclusão sádica de que tudo o que faço, tem a missão de me magoar e ferir a mim mesma, não me perguntes porque, talvez para me vitimizar, talvez para me odiar mais ainda, talvez para me culpar...

A verdade é que estou cansada, sem rumo, perdida... A verdade é que depois de tudo o que escrevi, tu não estas aqui para me guiar, para me ajudar... A verdade é que só me resta desabafar com quem já não me pode ouvir...